Olá pacientes-leitores, tudo bom com vocês?
Espero que estejam. Hoje é a 'publicação' da segunda parte minha reflexão Fenomenológica me baseando, principalmente no conteúdo lecionado na PUC e em textos do Rollo May -de quem eu sou um grande fã! Vamos ao que interessa.
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2ª Cena escolhida. O momento que Julie Vignon encontra em sua nova moradia uma proliferação de ratos e não consegue agir diante deles, a não ser pedir a um de seus vizinhos um gato emprestado para exterminá-los.
No momento em que se encontra em seu novo apartamento, após chegar de compras, ela abre a porta da dispensa e se depara com uma ninhada de ratos. Sua reação é como de qualquer outra pessoa, mas podemos perceber sua reação seguinte que altera o limiar das ações. Nesse momento ela se encontra com uma imagem de família. Uma imagem que não pertence mais ao mundo dela. Uma relação inexistente, ou que ela pensa ser inexistente a partir do momento em que foi a única sobrevivente do acidente que esvaiu com sua concepção e ideal de família.
Ela acredita estar no mundo, mas sem apego aos seus bens, conhecidos, sem nada. Sem significados. Sem manter relações. Sem um Mitwelt desenvolvido, a partir da concepção de que o Mitwelt é o mundo compartilhado em que se mostram as possibilidades das suas relações.
Pela transparência do seu ser e suas ações, vemos que no âmago de Julie Vignon há a presença da culpa e da vivência de uma angústia real. Ela convive com a ninhada de ratos por algumas noites, sem conseguir dormir direito e se desligar dessa relação, sem conseguir não pensar e resgatar suas lembranças de família. Essa ameaça antológica da existência permeia-a como um assunto inacabado, como algo em que há uma necessidade de viver, de ser, ao mesmo tempo em que o não-ser é a melhor das escolhas. Uma iminência presente no seu cotidiano.
Em uma apreciação geral, podemos dizer que ela não foi capaz de dizer adeus a sua família, não finalizou sua relação com seus familiares de uma maneira saudável para si, não completou o ciclo e então, se mostra ainda dependente daquela vivência inacabada. A persistência dessa relação cria uma dor, uma culpa, através da repetição do ocorrido e é por isso que não consegue exterminar os ratos com a vassoura e necessita do gato. Ela sente--se impotente diante da ação e ao colocar o gato dentro da dispensa com os ratos, tem esperança que solucionará esse ‘problema’, que na verdade não passa de sua relação familiar incompleta.
Espero que tenham gostado das duas reflexões e fico aberto a sugestões, como sempre obviamente, e gostaria também que as pessoas que lessem deixassem um comentário não só sobre o texto, mas com alguma proposta para o próximo post, que tal? O blog é feito não por mim apenas, pois sem vocês, não haveria motivo para ele existir.
Obrigado pela leitura e até a próxima consulta.
Mah.luco